domingo, 17 de janeiro de 2021

Habemus Vacina

 O título desse artigo é uma expressão que foi repetida nas redes sociais nesse domingo. Pessoas timidamente aliviadas por causa da aprovação das vacinas a título emergencial pela Anvisa. Sobre isso escreverei.

Não sei por onde começar. Demorei demais para escrever sobre os disparates que vejo e eles me acabrunharam de tal forma que me sinto perdido. Corro o risco de despejar meu sentimento de contrariedade na forma uma torrente descontrolada, mas penso que a essa altura tantos desgostos se acumularam que não cabe mais o preciosismo literário e menos ainda a diplomacia. Então vamos ao desabafo. Que seja minimamente ordenado.

Teremos vacina contra o vírus chinês. Não resisto ao sarcasmo e devo dizer que o vírus não deve estar muito preocupado: a taxa de imunização esperada gira em torno de 50%. Mesmo assim, vemos aqui e ali esperança e contidas comemorações. Curioso que as mesmas pessoas que celebram uma expectativa de imunização nessa faixa, sentindo-se enfim seguras, até há 24 horas atrás se sentiam apavoradas com uma taxa de letalidade de 3%. Ou seja, 97% de chance de se recuperar da gripe chinesa não é aceitável, mas 50% de chance de estar imunizado é um número alvissareiro. É assim mesmo? O vírus deve estar dando risada.

Sabe quem mais ri, nesse momento? O país que, à parte as suspeitas sobre a forma como o vírus se manifestou, agora vende vacinas que eles próprios não usarão. Isso mesmo: estamos comprando vacinas que os fabricantes não querem! E estamos celebrando isso... Continuemos... Os donos do vírus e do imunizante nos venderam sua pior vacina e ficaram com outra aparentemente mais eficaz. Entretanto, talvez nem mesmo esta seja celebrada por eles como nós celebramos a nossa, já que eles passaram os últimos meses levando vida normal e, por incrível que possa parecer, não aconteceu nenhuma mortandade por lá.

Eu sei que estou fazendo um papel de desmancha prazeres para muita gente que ficou animada. E o pior é que vou continuar. Vou continuar porque essa vacina não vai garantir imunização para mais do que a metade de suas vítimas e nem sequer nos devolverá nossas vidas. Não, a vacina não nos imunizará e nem nos libertará. Os auto-proclamados donos de nossas vidas já mandaram avisar que o confinamento e as máscaras continuarão. Estamos comemorando o que, mesmo?

Estamos comemorando a vacina. A vacina que imuniza um sim, outro não. A vacina que não nos livra das máscaras. A vacina que não nos devolve nossa liberdade. Essa vacina não faz muita coisa, pelo visto. E, pelo não visto, não sabemos o que ela faz. Não-visto, porque ninguém viu quais podem ser os efeitos colaterais. Não houve tempo de tais efeitos aparecerem nos voluntários testados. A urgência não cria tempo, o dinheiro não o compra e a tecnologia, pelo menos ainda, não o produz. Sem tempo, a vacina foi produzida mas não foi testada como a prática científica costumava fazer. Então você vai lá para se proteger da gripe chinesa, toma a vacina, talvez esteja protegido, talvez não, continua preso em casa de máscara e senta para esperar se vai ter alguma reação adversa. Não se esqueça de comemorar.

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